novembro 11, 2008

Este pássaro que nasceu não sei de onde,
que atravessa com o seu voo a imprecisão
da minha noite, que rasga com a lâmina
das suas asas a mortalha da insónia,
foi apanhado por um caçador de furtivos
silêncios. Agora, debate-se na gaiola
do esquecimento; recusa o poleiro para
que o cansaço o empurra; despeja
o bebedouro do tédio que lhe trazem
com a alpista das palavras. Já não canta;
e os seus olhos reflectem um horizonte
cego, como se tivesse perdido o rumo
das migrações. Mas não morre; e
ouço-o debater-se dentro de mim, quando
lhe aceno com o azul, e uma esperança
de céu o obriga a sonhar.

Nuno Júdice


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