maio 30, 2008

É tão natural
que eu te possua
é tão natural que tu me tenhas,que eu não me compreendo
um tempo houvesse
em que eu não te possuísse
ou possa haver um outro
em que eu não te tomaria.
Venhas como venhas,é tão natural que a vida
em nossos corpos se conflua,que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenha
sou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.E de ser tão naturalque eu me extasie
ao contemplar-te,e de ser tão natural
que eu te possua,em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma
se integrou na forma tua.
Affonso Romano de Sant'Anna

maio 29, 2008

Leio o amor no livro
da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se
juntam, como corpos, no abraço
de cada frase. E chego ao fim para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele.
Nuno Júdice

maio 28, 2008

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome.
Sopra-mo no ouvido,como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.


Maria do Rosário Pedreira

maio 27, 2008

Esta é dedicada a certa e determinada pessoa, ah pois é!




you can hold her hand
and show her how you cry
explain to her your weakness so she understands
and then roll over and die
or you can brave decisions
before you crumble up inside
spend your time asking everyone else's permission
then run away and hide
you can sit on chimneys
put some fire up your ass
no need to know what you're doing or waiting for
but if anyone should ask..
tell them i've been lickin' coconut skins
and we've been hanging out
tell them god just dropped by to forgive our sins
and relieve us our doubt

you can hold her eggs
but your basket has a hole
you can like between her legs and go looking for..
tell her you're searchin' for her soul
or you can wait for ages
watch your compost turn to coal
but time is contagious
everybody's getting old
so you can sit on chimneys
put some fire up your ass
no need to know what you're doing or looking for
but if anyone should ask..
tell them i've been cookin' coconut skins
and we've been hanging out
tell them god just dropped by to forgive our sins
and relieve us our doubt

Damien Rice

maio 26, 2008


Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor não amam.
Jorge de Sena

maio 23, 2008

A vida inteira esperei por
alguém como tu.
Mesmo sabendo que não sei como és.
E mesmo que
ainda não se tenha passado
a vida inteira.


Jorge Reis de Sá

maio 21, 2008

I don't love you as if you were the salt-rose, topaz
or arrow of carnations that propagate fire: I love you as certain dark things
are loved,
secretly, between the shadow and the soul.
I love you as the plant that doesn't bloom and carries
hidden within itself the light of those flowers,
and thanks to your love, darkly in my body
lives the dense fragrance that rises from the earth.
I love you without knowing how, or when, or from where,
I love you simply, without problems or pride:
I love you in this way because I don't know any other way of loving
but this, in which there is no I or you,
so intimate that your hand upon my chest is my hand,
so intimate that when I fall asleep it is your eyes that close.
Pablo Neruda

maio 20, 2008

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

maio 19, 2008



Agora que o Sr. vai desta para melhor ( pobrezito pah! ) aqui fica uma música maravilha para relembrar o homem. Mais uma das muito más mas que eu, para variar, adoro. E o filme?? Minha mãezinha o que eu gostava disto. E ainda gosto ; p Mesmo depois de visto umas 34.752 vezes ; )

maio 15, 2008

Como nunva vieste, já não venhas.
O mais rico tesouro é o que se nega.
Ágil veleiro doutros mares, navega
Com as asas que tenhas!
Foge de ti, porque de mim fugiste.
Alarga a solidão que me consome.
E apaga na memória a praia triste
Onde eu pergunto às ondas o teu nome.
Miguel Torga

maio 12, 2008

Amor Cão


Faz hoje dois anos o meu mais fiel amor. Parabéns meu picolho lindo! ; )

maio 09, 2008

"There's something to be said about a glass half full, about knowing when to say when. I think it's more of a floating line, a barometer of need. Of desire. It's entirely up to the individual, and it depends what's being poured. Sometimes all we want is a taste. Other times there's no such thing as enough, the glass is bottomless... all we want is more."

Grey´s Anatomy

maio 08, 2008

Só...

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
António Gedeão

maio 07, 2008

Há algum tempo recebi este mimo de um amigo,encontrado por terras alentejanas. Sorriso fácil e meiguice no olhar, sempre curioso e observador. Guardo, embora poucas, muito boas memórias tuas. Aqui fica a homenagem.Um beijo para ti Carlos.


desculpa se me
atraso, minha amiga.
meu corpo está cansado
e não quer segurar o tempo.
estes vocábulos
perderam o comboio,
inspirados nas reminiscências
que vivemos num espaço
transformado
pela distância.
a loucura do encontro
permanece
e meu esquecimento está congelado.
(continuas a subir a escada do mundo?)
este teu sinal,
abriu-me o sorriso
da calçada, de um copo de cerveja,
das palavras que se soltaram
na calma de um alentejo
sem fim.
e gosto de chamar
a isto:vida
pelo menos enquanto estou deste lado.
Carlos Boita

maio 06, 2008

"Os homens são brutos e insensíveis.Matam mais criancinhas, portam-se pior à mesa, cospem e coçam-se mais.Os homems - e sobretudo os homens que gostam de mulheres - são menos inteligente, menos delicados e menos civilizados que as mulheres. A única coisa que têm a favor deles, à parte certas características discutíveis, como serem menos histéricos, é as mulheres gostarem deles.Por que é que a mulheres gostam dos homens?Como lésbica que sou nunca entendi.. ''
Miguel Esteves Cardoso

maio 05, 2008

"a noite jorra silêncio de estrelas e de mar, cobre de cintilações a terra lavrada, vergam-se pinheiros à luz do luar, a resina enegrece os dedos. ouve-se o rebentar das ondas, adormeço. marulhares sobem ao peito entorpecido pelo vinho e pelo haxixe.
olho-te dormir, a cabeça entornada sobre o meu ombro. sei que do meu corpo doente fizeste a tua praia.

são duas da tarde, uma maneira de festejar a noite em pleno dia. estou sozinho, almoço. o calor envolve-me como uma planta invisível, insaciável. sufoca-me, beija-me os dedos cansados de tamborilar na mesa. o restaurante está quase vazio.
do extremo longínquo doutra mesa olhas-me com insistência. sim, talvez no próximo verão, quando o buço imitar um frágil bigode, quando tiveres deixado de andar de bicicleta e vieres acampar sozinho. esboço um sinal imperceptível, sorris. uma destas noites irei contigo para me devolveres o olhar que te emprestei.
mas aproximaste-te, headphones, óculos escuros, uma luva negra na mão esquerda, o cabelo revolto pelos ombros, um sorriso nos lábios capaz de escurecer o dia.
invento uma paisagem para estar contigo, gasto os dias a passear pelos campos à espera que voltes da praia. o tempo foi sempre a minha ruína…
caminho pela imensidão das águas, perco-te. anoto no caderno: esta noite falaremos sobre uma paixão. que mais faremos com os corpos?
tudo abandonei, já não consigo voar com as aves, nem possuo a imagem dos rostos felizes. não me lembro onde larguei a velha gabardina que nos abrigou tantos invernos. as estrelas cintilam sobre as pedras polidas pelas marés. a cal estalada dos muros revela antigas paisagens. ignoro se permanecerei aqui muito tempo.
estávamos em julho, fechei o caderno contigo dentro, nunca mais voltei a apaixonar-me."
Al Berto

maio 01, 2008

" se o teu coração quebrou ao meio..deita fora o que te dói,
e vive em paz com a metade que te cura.
o contrário, tentar esperar que tudo passe,
tentar esquecer o que te fez feliz.
tentar apagar da memória quem te fez bem.
esperar que o tempo apague..
não te enganes,esse remédio .. só prolonga os teus dias doentes."
Hamlet