setembro 27, 2007


"Nunca tiveste aquela sensação de amares alguém, de amares alguém muito, e de as circunstâncias em que a tua vida acontece destruírem a possibilidade desse amor, apesar de ele continuar a existir dentro de ti?"


João Tordo in Hotel Memória

setembro 24, 2007

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice

setembro 23, 2007



-Meu corpo, que mais receias?

-Receio quem não escolhi.


-Na treva que as mãos repelem

os corpos crescem trementes.

Ao toque leve e ligeiro

O corpo torna-se inteiro,

Todos os outros ausentes.


Os olhos no vago

Das luzes brandas e alheias;

Joelhos, dentes e dedos

Se cravam por sobre os medos...

Meu corpo, que mais receias?


-Receio quem não escolhi,

quem pela escolha afastei.

De longe, os corpos que vi

Me lembram quantos perdi

Por este outro que terei.


Jorge de Sena

setembro 21, 2007

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada
lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Hélder

setembro 20, 2007

Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces
-o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não fazs
enão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
Maria do Rosário Pedreira

setembro 19, 2007

Ai oh pah..Tão chavalinhos..Mais uma daquelas músicas de sempre..

setembro 18, 2007

Aqueles que passam por nós,
não vão sós,
não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós.
Antoine de Saint-Exupery

setembro 17, 2007





Como não consigo colocar isto noutro sítio (sou um bocado loura..; p) aqui fica o meu coisinho de contar ; p

setembro 14, 2007

Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.
Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.
Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém(eu provavelmente)
nunca tivesse existido.
Manuel António Pina

setembro 07, 2007

Metade




Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

Trocaria a memória de todos os beijos que me deste por um único beijo teu. E trocaria até esse beijo pela suspeita de uma saudade tua, de um único beijo que te dei.



Miguel Esteves Cardoso

setembro 05, 2007



Já cá tinha posto a letra. Na altura em que ainda não sabia pôr videos no meu bloguito..Ok, gozem à vontade ; p Aqui fica uma das músicas mais marcantes da minha vida..

setembro 04, 2007

Gosto dos amigos
Que modelam a vida
Sem interferir muito,
Os que apenas circulam
No hálito da fala
E põem,
de leve,
Um desenho às coisas.
Mas, porque há espaços desiguais
Entre quem são
E quem eles me parecem,
O meu agrado inclina-se
Para o mais reconciliado,
Ao acordar,
Com a sua última fraqueza;
O que menos se preside à vida
E, à nossa, preside
Deixando que o consuma
O núcleo incandescente
Dum silêncio votivo
De que um fumo de incenso
Nos liberta.

Sebastião Alba

setembro 03, 2007

Lua adversa


Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

E roda a melancolia

seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém(tenho fases como a lua...)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu...

Cecília Meireles

setembro 02, 2007


"Ontem à noite eu chorei. Chorei porque o processo do meu crescimento foi doloroso. Chorei porque não era mais uma criança com a fé cega de criança. Chorei porque os meus olhos estavam abertos para a realidade (...).Chorei porque não podia mais acreditar, e adoro acreditar.Ainda consigo amar apaixonadamente (...). Isto significa que amo humanamente. Chorei porque daqui por diante chorarei menos. Chorei porque perdi a minha dor e ainda não estou acostumada à ausência dela."



Anaïs Nin

setembro 01, 2007