julho 31, 2009

Boca cheia

Amo-te porque não me amo inteiramente. O que me falta é infinito mas tu és do bem que me falta o enigma onde se condensam a terra e o sol o ar as águas invioladas e tenho a boca cheia de música ondulação do teu silêncio.


Casimiro Brito

julho 28, 2009

Fuga

Alto estou a teu lado
no Verão deitado

Alto no esplendor de possuir-te
e trocarmos silenciosamente
os frutos mais fundos da morte

Como se navegasse um rio
por dentro
e na tua fragilidade encontrasse
a minha força

Um caminho rigoroso de silêncio.


Casimiro de Brito

julho 23, 2009

Mais um


Bem sei que é só no sábado, mas mais uma vez, não me vou aproximar de computadores até segunda. Fica já aqui : ) Parabéns a mim!

julho 17, 2009

Porque metade de mim...

Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância porque metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer porque metade de mim é plateia e a outra metade é canção. E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.

Osvaldo Montenegro

julho 13, 2009

Há na intimidade um limiar sagrado, encantamento e paixão não o podem transpor - mesmo que no silêncio assustador se fundam os lábios e o coração se rasgue de amor. Onde a amizade nada pode nem os anos da felicidade mais sublime e ardente, onde a alma é livre, e se torna estranha à vagarosa volúpia e seu langor lento. Quem corre para o limiar é louco, e quem o alcançar é ferido de aflição. Agora compreendes porque já não bate sob a tua mão em concha o meu coração.

Anna Akhmátova

julho 06, 2009

Quase nada

És já quase nada. E choro por isso. Por teres sido tanto durante tanto tempo, que agora sinto-me vazia e perdida por seres já tão pouco. As lágrimas já não correm como dantes. Aparecem por vezes, tímidas e escassas porque me ponho de propósito a pensar em ti.Não como dantes em que eras parte anatómica de mim e chorar-te era chorar-me. Tenho de propósito parar para pensar. E choro por isso. Choro só eu, tu já não. Tenho de construir novos sonhos, novas nuvens para nelas perder a cabeça e novas estrelas para lhes pedir desejos. E isso custa. E choro por isso. Cada música ouvida e cada poema lido já não têm nem o teu rosto nem a tua voz. Lugares onde antes te sentia presente estão agora cheios de outras presenças, as nossas, já não as sinto. Cheiros que me levavam a momentos tão intensos que quase me faziam deixar de respirar, agora têm só leve aroma a nada. Sou eu agora.Tenho-me a mim. Sózinha. Era como se me sentisse mais forte e mais acompanhada por ter dois corações em mim. Agora só tenho o meu e tem de aprender a bater por si. Sózinho.