agosto 29, 2006


agora eu era linda outra vez
e tu existias e merecíamos
noite inteira um tão grande
amor

agora tu eras como o tempo
despido dos dias, por fim
vulnerável e nu, e eu
era por ti adentro eternamente

lentamente
como só lentamente
se deve morrer de amor


Valter Hugo Mãe

agosto 24, 2006

Drão


Uinda, uinda, uinda.. ; P

Drão, o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
tem que morrer pra germinar
Plantar n'algum lugar
Ressucitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer, aquele amor morrer
Nossa caminha dura
Dura caminhada, pela estrada escura

Drão não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Entende-se infinito, imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer, aquele amor morrer
Nossa caminha dura, cama de tatame
Pela vida afora

Drão os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há-de haver mais compaixão
Quem poderá fazer, aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre nasce trigo
Vive morre pão
Drão, Drão

Caetano Veloso

agosto 22, 2006

Intimidade


No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

José Saramago

agosto 21, 2006

Cinderela


Um doce esta letra, é o que é....


Eles são duas crianças a viver esperanças,
a saber sorrir.
Ela tem cabelos louros, ele tem tesouros para repartir.
Numa outra brincadeira passam mesmo à beira sempre sem falar.
Uns olhares envergonhados e são namorados sem ninguém pensar.

Foram juntos outro dia,
como por magia, no autocarro, em pé.
Ele lá lhe disse, a medo: "O meu nome é Pedro e o teu qual é?"
Ela corou um pouquinho
e respondeu baixinho: "Sou a Cinderela".
Quando a noite o envolveu
ele adormeceu e sonhou com ela...

Então, Bate, bate coração
Louco, louco de ilusão
A idade assim não tem valor.
Crescer,vai dar tempo p'ra aprender,
Vai dar jeito p'ra viver
O teu primeiro amor.
Cinderela das histórias a avivar memórias,
a deixar mistério

Já o fez andar na lua, no meio da rua e a chover a sério.
Ela, quando lá o viu, encharcado e frio,
quase o abraçou.
Com a cara assim molhada ninguém deu por nada,
ele até chorou...

E agora, nos recreios,
dão os seus passeios, fazem muitos
planos.
E dividem a merenda,
tal como uma prenda que se dá nos anos.
E, num desses bons momentos,
houve sentimentos a falar por si.
Ele pegou na mão dela: "Sabes Cinderela, eu gosto de ti..."

Carlos Paião

agosto 19, 2006


Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo

Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor

É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente.

Carlos Tê

agosto 17, 2006

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade

agosto 16, 2006

Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.


Eugénio de Andrade

agosto 15, 2006

Quem não se lembra da pobrezinha da "Pretty Woman", tristinha da vida, a abandonar o hotel na sua limusine chorando as pedras da calçada? Aqui fica a homenagem ; p

It must have been love but it’s over now...

Lay a whisper on my pillow
Leave the winter on the ground
I wake up lonely, there’s air of silence
In the bedroom and all around

Touch me now, I close my eyes
And dream away

It must have been love but it’s over now
It must have been good but I lost it somehow
It must have been love but it’s over now
From the moment we touched still the time had run out

Make-believing we’re together
That I’m sheltered by your heart
But in and outside I’ve turned to water
Like a teardrop in your palm

And it’s a hard winter's day
I dream away

It must have been love but it’s over now
It was all that I wanted, now I’m living without
It must have been love but it’s over now
It’s where the water flows
It’s where the wind blows

It must have been love but it’s over now
It must have been good but I lost it somehow
It must have been love but it’s over now
From the moment we touched ‘til the time had run out

It must have been love but it’s over now
It was all that I wanted, now I’m living without
It must have been love but it’s over now
It’s where the water flows
It’s where the wind blows

Roxette

agosto 14, 2006

Mais um Verão


A altura mais desejada. Gelados de noz e avelã. Esplanadas regadas a amarguinha com limão. Praia à noite, à tarde e até de manhã.. ; p Filas intermináveis, buzinas nervosas e palavrões em todas as línguas.. Estacionamentos impossíveis. Jantares marcados por qualquer motivo ou por motivo nenhum.. Creme para antes do sol, para durante e para depois. Cumprimentos aos que só cá estão nesta altura, aos que cá estão sempre e aos que gostavam de estar. " Já deves estar cá com um bronze..", " Sim, tenho ido à praia todos os dias", " Hum.. Que inveja!!!".
Caipirinhas e caipiroscas, cervejas e cocktails, peixinho grelhado e muitas saladas.. Saudades inconfessáveis do Inverno.. Sensação permanente de invasão ao que é tão teu e que é partilhado (obrigatoriamente) por todo e qualquer ser humano.
Prédios a abarrotar de criancinhas histéricas e ranhosas. E cães. E avós. E melancias e arcas e rádios de pilhas.
Visitas de fim de semana. Visitas de semana. Levantamentos indisponíveis. Música ao vivo e karaoke.Muito karaoke. " Mas porquê????"
Engates descarados. Antipatia geral. Aborrecimento ocasional. Impaciência geral...
Festas da moda e das modinhas. Tias e tios e pseudo-tios. Vips e super vips e mega vips e vipzinhos. " Sem convite não pode entrar porque esta festa é só pra vips!" (risada geral).
Roupa leve e fresca. Televisão ainda mais aborrecida. Mongos com açucar e florzinhas deprimentes.
Afinal havia convites...Vips espalhados pela areia embebidos em bebidas à pala. Pose perdida. (risada geral).
Shot oferecido com a primeira bebida. Concertos no auditório. Mergulhos de mar, de piscina, de fonte, do que for. Marisco e vinho verde. Toalhas na areia. Areia nos pés. No cabelo. Nas mãos. Aproveitar tudo ao máximo. Noites mal dormidas....

Enfim... Mais um Verão.