agosto 13, 2008

Apanha-me as migalhas, por favor. São pedaços que deixei de mim nas tuas mãos, julgando-te com uma dessas fomes danadas, de queixo aguçado e olhos saltando das órbitas. Não tens dedos delicados e humildes para numa paciência de puzzle confortares o estômago com tão miseráveis pedaços do pão que te dei. Tinha como te alimentar e te fortalecer os músculos para uma luta mais justa, agora que é tão intensa e não podes fugir dela. Tinha todas as fontes onde pudesses saciar as tuas sedes. Preferiste espalhar-me ao largo, voltar costas, com um aceno breve por cima dos ombros arrogantes. Agora não sei. Nunca soube se esse aceno era de repúdio ou se querias ainda que te pusesse a mão por baixo, como se faz aos passarinhos que aprendem os primeiros passos do voo. Nada mais a dizer. Recolhe-me por favor as migalhas, e devolve-me o corpo, traçado a dores que não quiseste compreender.


José Alexandre Ramos

Sem comentários: