abril 15, 2008

"Quando morre o desejo, quando o amor se esboroa - de quem é a culpa? Quem deixou que a chama se apagasse? Provavelmente um e outro, sem darem por isso - ou apenas o vento, o excesso de realidade, as deambulações de cada um dentro da sua própria vida. O "culpado" é, pressupõe-se, o "infiel". A Humanidade anda desde os alvores da História a dividir o mundo entre "fiéis" e "infiéis" (a um Deus, a um Senhor, a outro ser humano) e os resultados não têm sido propriamente brilhantes - não será tempo de mudarmos de modelo? Acresce que a infidelidade concreta, seja ela qual for, é sempre uma consequência, nunca uma causa - se A que amava B agora ama C, é porque havia dentro dele (ou dela) um espaço de amor (ou desejo, ou cumplicidade) por preencher. Os afectos não se comandam - é aliás por isso que a inteligência tem melhor imprensa do que os sentimentos; não nos dá jeito nenhum percebermos que, tão doutos que somos, tão superiores a cães, lagartos e leões, não temos controlo algum sobre os dados fundamentais das nossas vidas: o nascimento, o amor, a morte. Quantas vezes desejámos amar quem não amamos, e não amar quem, contra todas as razões, amamos? Quantas vezes soçobramos ao amor que nos faz mal depois de anos de esforço sincero para querer o amor que nos faz bem?
(...)O amor é um animal felino, mutante, não resiste a cativeiros forçados. Podemos ter a sorte de amar e ser amados "até que a morte nos separe" - mas a verdade é que só podemos prometer amarmo-nos até ao dia da morte do amor, esse ser misterioso, independente e livre. "
Inês Pedrosa

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