abril 23, 2009

Um dia

um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei

entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela. e a luz

compreenderá a impossível compreensão do amor. um dia, quando

a chuva secar na memória, quando o inverno for tão distante,

quando o frio responder devagar como a voz arrastada de um velho,

estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela.

sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa

minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma

palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a

perfeição da felicidade.


José Luís Peixoto

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