outubro 05, 2007



Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço

em que de penetrar-te me senti perdido

no ter-te para sempre

-Quanto de ter-te me possui em tudo

o que eu deseje ou veja não pensando em ti

no abraço a que me entrego

-Quanto de entrega é como um rosto aberto,

sem olhos e sem boca,

só expressão doridade quem é como a morte

-Quanto de morte recebi de ti,

na pura perda de possuir-te em vão

de amor que nos traiu

-Quanta traição existe em possuir-se a gente

sem conhecer que o corpo não conhece

mais que o sentir-se noutro

-Quanto sentir-te e me sentires não foi

senão o encontro eterno que nenhuma imagem

jamais separará

-Quanto de separados viveremos noutros

esse momento que nos mata para

quem não nos seja e só

-Quanto de solidão é este estar-se em tudo

como na auséncia indestrutível que

nos faz ser um no outro

-Quanto de ser-se ou se não ser o outro

é para sempre a única certezaque nos confina em vida

-Quanto de vida consumimos pura

no horror e na miséria de, possuindo, sermos

a terra que outros pisam

-Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,

recebo gratamente como se recebe

não a morte ou a vida,

mas a descoberta

de nada haver onde um de nós não esteja.
Jorge de Sena

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