O que verdadeiramente me dói não são as palavras que nestes anos todos ficaram por dizer arrumadas entre os medos que não gritámos juntos e os sonhos que não transpirei na tua pele. O que verdadeiramente me dói são, os silêncios que nunca habitámos do mesmo lado porque o silêncio só pode ser partilhado com aqueles que amamos até à loucura, só ele é a dádiva perfeita que não pede mais nada a não ser um mesmo lugar para deitar a cabeça e esperar que a madrugada lentamente desfaça todos os segredos e nada mais seja preciso para voltarmos a ter vinte anos, mesmo que os vinte anos tenham morrido para sempre na cidade em chamas. Hoje sei que te devia ter colado então ao meu silêncio para que levasses no fundo dos teus olhos a cor dos meus, ainda que totalmente despidos dos teus. Mas não fui a tempo, e alguém junto a nós, disse as pequenas mentiras mordem até ao fim, e eu comecei a falar de outras coisas mas foi isso – tenho a certeza – que nos matou por isso te peço agora – ajuda-me a não pecar outra vez do mesmo modo para que os deuses não se cansem de voltarem a pôr tudo no lugar certo olha para mim – não tenhas medo – dá-me camélias – cravos – azáleas – o que houver, descobre a única palavra verdadeiramente nossa, a única a poder ensinar-nos ainda o rasto das noites em que a cidade era um braseiro e nós ardíamos no lume das pedras e das nossas línguas enquanto os pardais se confundiam na vidraça das janelas que escancarávamos por maio fora...
dezembro 11, 2008
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2 comentários:
Lindo, lindo, lindo
É, não é? Também gosto, muito, muito...
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